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Vídeos do TikTok ofertam Spotify Premium anual a R$ 57, mas clientes não recebem

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Vídeos no TikTok promovem assinaturas Premium de serviços como Spotify, Canva, YouTube e ChatGPT por valores bem abaixo do que é cobrado oficialmente pelas empresas. Porém, pessoas que compraram esses itens reclamam que não tiveram acesso aos benefícios após a aquisição.
Um dos posts na rede social que ensinava o passo a passo contava com mais de 9 mil curtidas até esta quinta-feira (26), antes de ser retirado do ar. A assinatura anual do Spotify Premium pelo método indicado no vídeo sairia por R$ 57, por exemplo, um valor muito mais barato do que o preço oficial (R$ 219 no site de streaming).

A seguir, confira os detalhes da prática nesta apuração exclusiva do Canaltech:
  • Promessa de streaming barato
  • Reclamações e dificuldade de reembolso
  • Comprei e não recebi. E agora?
  • O que dizem as empresas?

Promessa de streaming barato​

As publicações encontradas pela reportagem nesta quinta-feira (26) mencionam valores muito mais baratos para assinar o Spotify Premium e levam a um agregador de links com diversos outros serviços, incluindo os que envolvem Canva, ChatGPT e YouTube Music.
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Clicar em cada um deles leva para uma página no Cakto Pay. A plataforma de pagamentos possibilita que pessoas e empresas vendam seus cursos, e-books e outros produtos 100% digitais.
Dessa forma, o Cakto Pay não é o responsável direto pela oferta, e apenas oferece uma plataforma para que os produtos sejam comercializados por terceiros. A empresa também oferece um canal para denúncias de produtos falsos ou plágio e informa que os pedidos passam por uma análise interna.
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Perfis promovem a venda de supostas assinaturas vitalícias em vídeos no TikTok (Imagem: Captura de tela/André Magalhães/Canaltech)
O anúncio foi publicado por um vendedor identificado como “ferramentas digitais bfd” e menciona um pagamento único para desbloquear a assinatura anual, com uma série de benefícios, e sem a necessidade de compartilhar a conta.
Um dos vídeos do TikTok detalha o processo para ter acesso à suposta assinatura: é necessário comprar o item pela página indicada pela publicação, receber instruções por e-mail e, depois, entrar em contato com um número de WhatsApp para obter o serviço.
O CT entrou em contato com o vendedor responsável pela oferta através do endereço de e-mail disponível no Cakto e procurou os perfis do TikTok que divulgaram os links, mas ainda não teve retorno.
Em testes feitos pela reportagem nesta sexta-feira (27) após as primeiras apurações, o vídeo com o passo a passo no TikTok e o anúncio para a oferta do Spotify Premium foram removidos, respectivamente, da rede social e da Cakto Pay. Anúncios para serviços de outras empresas, porém, seguem no ar.

Reclamações e dificuldade de reembolso​

Os anúncios em plataforma de terceiros sem parcerias oficiais com as marcas e com valores muito abaixo do comum são motivo de desconfiança. No geral, as empresas vendem as assinaturas nos seus respectivos sites ou aplicativos ou através de revendedores autorizados, como bancos e operadoras de telefonia.
O nome do perfil do vendedor das ofertas não está vinculado a um CNPJ ativo, mas o site Reclame Aqui tem uma página dedicada a relatos sobre a Cakto Pay, plataforma na qual é feita a venda dos produtos digitais anunciados.
A reportagem encontrou diversas reclamações de pessoas que compraram as assinaturas e não receberam o acesso ao serviço. Existem comentários de pessoas que não tiveram resposta no WhatsApp, não receberam instruções ou só puderam acessar o Spotify anual por três semanas, por exemplo.
No próprio Reclame Aqui, a Cakto Pay responde que “é responsável apenas pelo processamento do pagamento” e que as questões relacionadas aos produtos devem ser tratadas diretamente com o vendedor.
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Reclame Aqui conta com declarações de pessoas que compraram e não receberam os serviços (Imagem: Captura de tela/André Magalhães/Canaltech)
O chefe de compliance da empresa, Adriano Alves, reforçou ao Canaltech por e-mail que a Cakto Pay não é a responsável direta pelos produtos ou serviços oferecidos por lá, mas atua “de forma proativa e rigorosa no combate a quaisquer usos indevidos da infraestrutura”.
Além disso, revelou que a companhia começou uma investigação interna sobre o caso específico após o contato da reportagem.
“Possuímos uma política rigorosa contra fraudes e qualquer vendedor que infrinja nossos termos de uso é imediatamente banido da plataforma, podendo ser reportado às autoridades competentes, se necessário” acrescentou. "Contamos também com um canal oficial de denúncias, disponível para qualquer pessoa."
Após o contato, a reportagem apurou nesta sexta-feira (27) que alguns dos links de ofertas para Spotify e YouTube Premium foram retirados do ar. No entanto, outras ofertas similares surgiram com nomes de vendedores diferentes.
É importante pontuar que todos os links de anúncios contam com um código de afiliado, então é provável que as contas que divulgam o suposto benefício recebam uma comissão financeira a cada compra na plataforma.

Comprei e não recebi. E agora?​

Para a advogada especialista em direito civil e direito do consumidor do Paschoini Advogados, Amanda Cunha, "o caso relatado apresenta fortes indícios de prática fraudulenta".
Especialmente por envolver a revenda de assinaturas de serviços digitais por valores muito abaixo dos praticados oficialmente. Em geral, essas revendas se baseiam no uso indevido de contas corporativas, logins compartilhados ou acessos obtidos por meios não autorizados”, comenta.
Cunha ainda reforça que esse compartilhamento viola os termos de uso das plataformas, visto que as empresas mencionam que a revenda é proibida no momento da contratação e do aceite das condições.
Caso uma pessoa tenha comprado e não recebeu o serviço, a recomendação da advogada Amanda Cunha é acionar o Procon do seu estado para fazer uma denúncia e registrar boletim de ocorrência. Além disso, caso a compra tenha sido feita via cartão de crédito, é importante entrar em contato com a operadora ou instituição de pagamento para pedir o estorno.
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Serviços como ChatGPT Plus e YouTube Music Premium são oferecidos nas páginas (Imagem: Captura de tela/André Magalhães/Canaltech)
O especialista em Segurança da Informação e Head de Soluções Cloud e Arquitetura da Teltec Solutions, Franklin Nunes, afirma ao Canaltech que os preços mais baixos do que o normal são outro indicativo comum de fraudes online: “mesmo em campanhas oficiais, a estimativa de desconto pode variar entre 10% a 30% por um período determinado”.
Outro ponto de atenção envolve o uso de uma plataforma de terceiros para divulgar o suposto serviço. “A necessidade de contato através de plataformas de mensagem instantânea para finalizar a transação é uma prática comum em golpes, pois dificulta o rastreamento e a responsabilização”, adiciona Franklin Nunes.
O pesquisador da empresa de cibersegurança ESET, Daniel Barbosa, por sua vez, avalia que os anúncios chamativos também podem funcionar como um caminho para levar a outras compras na plataforma e, assim, gerar comissões para os vendedores.
“Dentre as muitas possibilidades existentes, a que primeiro me ocorre é que estas ofertas tenham apenas recebido uma ‘máscara’. O anúncio menciona grandes serviços como o YouTube e ChatGPT, mas, na verdade, direcionam a compra para outros produtos digitais, fazendo com que o afiliado que o divulgou receba a comissão mesmo assim caso haja alguma compra”, comenta.

O que dizem as empresas?​

O Canaltech entrou em contato com as marcas mencionadas nos anúncios, além do próprio TikTok.
Uma fonte do Canva respondeu que “as assinaturas do Canva estão disponíveis apenas por meio de nosso site e aplicativo oficiais e, em casos selecionados, trabalhamos com parceiros autorizados no setor educacional”.
Ela também reforça que a revenda do Canva Pro não é autorizada, assim como a empresa não oferece assinaturas vitalícias.
O YouTube afirmou em nota ao Canaltech que a oferta do Music Premium nesses casos se trata de um golpe e adota as medidas cabíveis para lidar com a situação.
Até o momento, Spotify e TikTok não responderam os questionamentos sobre o caso, mas a matéria poderá ser atualizada posteriormente com os posicionamentos.
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Leia a matéria no Canaltech.

Fonte: Canal Tech
 
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